O que dizer?

Saberia muito menos sobre mim, se não entendesse as coisas do mundo



Welcome aboard *Bienvenido a bordo *Willkommen an Bord

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Caminhei...

Tirei os meus sapatos.
Caminhei.
Senti a areia entre os meus dedos e a água gelada nos meus pés.
Vi uma concha solitária, de cor branca e cinza.
Respirei o vento frio.
Vi algumas estrelas ofuscantes.
A lua, só uma parte dela.
Eu estava em busca de algumas respostas.
Parei em frente ao mar, fechei os olhos.
Não importa o quanto eu tivesse gritado, você nunca teria me ouvido.


















No Divã com Freud

Alguém abre a porta. Passos lentos, sobre o piso de madeira, são ouvidos. Pelo barulho, percebe-se que alguém caminha em direção a recepção da velha clínica situada à Rua Thomas Mann. É uma tarde de outono. No auge da 2ª Guerra Mundial, o clima está frio e as pessoas cinzentas. Um senhor se aproxima. Direciona seu olhar sereno à moça sorridente, de boa aparência, que está sentada logo atrás de um balcão de mármore negro.
- Boa tarde senhorita. Tenho uma consulta marcada para esta tarde. Devo aguardar aqui?
- Boa tarde, senhor. Não será necessário que o senhor aguarde por muito tempo. O atendimento deverá ser em poucos instantes. Aguarde um momento que eu irei lhe chamar.
A moça levanta e vai até a segunda porta localizada no corredor da clínica. Repentinamente pára e olha rapidamente para a placa com letras garrafais pendurada na porta que traz a informação de que ali está um dos melhores médicos especialistas na psique humana daquela época. Ela gira a maçaneta da velha porta, delicadamente, e entra na enorme sala.
- Dr. Freud. O paciente o aguarda.
- Mande-o entrar, por favor. Já estou pronto para atendê-lo.
A moça vai até a recepção e pede para que o velho ilustre senhor se dirija até a sala.
Ao entrar, o homem de estatura mediana, olhos faiscantes e de sorriso frio se depara com uma enorme sala arrodeada de livros, uma cadeira solitária e um sofá velho. A sala possuía um cheiro característico de um lugar há muito tempo desabitado. Mas, quase não se via poeira.
- Boa tarde Sr. Hitler. O que o traz a este divã?
- Boa tarde Dr. Freud. Soube que o senhor traz idéias inovadoras no campo da psicanálise e que tem os tais Id, Ego e Superego. Quem são eles? Seus auxiliares?
- Continue... (falou Freud)
- Talvez, eles possam trazer significativas contribuições para os meus ideais de mudar o mundo.
- Como assim? Pode ser mais objetivo?
- Como assim? Ora!? Preciso disseminar a idéia da raça ariana pura. Fazer o mundo conhecer os 25 pontos-chaves do partido Nazista. Destruir os judeus. Pregar o ódio e queimar todas as raças inferiores. Fazer com que o mundo entenda que o 3º Reich é um império em ascensão que dominará o planeta. Quero difundir os ideais racistas, a eugenia, o totalitarismo, o anti-clericalismo para que todos entendam o meu poder. Que eu sou o Führer da Alemanha e de toda a Europa.
- Diga-me porque tanto ódio? Não entendo o motivo de tanto horror? Vejo que será necessário aplicar as técnicas de regressão com o senhor.
- Ódio? Não. É só o ressurgimento da nova Alemanha, que foi humilhada e arrasada na 1ª Grande Guerra, e, ainda, é uma resposta ao Tratado de Vesalhes.
- E o que mais, além de todas essas atrocidades o senhor deseja para a humanidade? (retrucou Freud)
-Quero dominar o mundo. Já lhe disse. Mas, antes, preciso que o doutor me responda algumas perguntas.
- Espere um pouco. Sou eu quem pergunta: Quem é o doutor e o paciente aqui?
Hitler franze a testa, passa a mão sobre o pequeno bigode negro e em um tom arrogante pergunta:
- Qual a origem de sua família? Ouvi dizer que o senhor é de origem semita. Judeu asquenaze, oriundo da Europa Central. Isso é verdade?
- Vamos com calma. Isso é um julgamento? Ou uma consulta médica? Espere, preciso colocar ordem nas coisas aqui. Não sou judeu, tampouco asquenaze. Não considerarei isso. Mas, o seu questionamento anterior refere-se ao Id, Ego e Superego. Se continuarmos com essa conversa, além de uma regressão de vidas passadas, precisarei fazer uma correlação do complexo de Édipo com o senhor ou precisarei do auxílio espiritual do médium Chico Xavier também. Para o seu tipo de tratamento, recomendo uma mesa branca e se possível a presença do francês Hippolyte Rivail, mais conhecido com o pseudônimo de Allan Kardec, o senhor o conhece? Aceita cocaína?
- Cocaína?
- Sim. Uso-a como substância auxiliar no tratamento de histeria. Como um medicamento terapêutico.
- Não. Obrigado. (balançou a cabeça negativamente). Já tomei o meu Fenobarbital hoje.
- Bom. Dando continuidade... Necessito de uma investigação mais profunda sobre as suas origens e infância.
- Não entrarei em detalhes até que me fale das suas.
- Isso é uma brincadeira? Por acaso é um reality show? (disse Freud irritado). Estou começando a acreditar na insanidade do seu comportamento. Não duvido que o senhor seja capaz de cometer tantas atrocidades.
- Mas, ainda não fiz nada. O holocausto é apenas o começo do que realmente eu pretendo fazer com o resto da humanidade. Mas, fale-me sobre os seus assistentes. Estes que lhe renderam tantos progressos e credibilidade no mundo da psicanálise, os tais Id, Ego e Superego.
A conversa tomou toda à tarde. Todas as técnicas de oratória e comunicação de Hitler fizeram com que os papéis fossem invertidos. Agora, no divã, Freud. E Hitler, um mero gênio frustrado, tentava convencer o velho médico sobre a sua ideologia de dominar o mundo. De repente, a porta abre lentamente, outro paciente desavisado entra na sala e deixa o silêncio pairar.
- Boa tarde, é aqui que tem o famoso Dr. Freud? Procuro informações acerca de um senhor que foi chanceler da Alemanha e que agora é ditador. Aquele com ideais nacionalistas e totalitárias oriundas do fascismo. Ele poderia fazer parte da minha estratégia de acabar o mundo a começar pelos Estados Unidos da América.
- Por favor, Sr. Laden, retire-se da sala. Pois, ainda, não terminei a consulta aqui.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Lábios

Dos lábios saem palavras que machucam

Que não fazem sentido

Palavras que permanecem intactas

Palavras desentendidas

Palavras soltas

Dos lábios saem beijos ardentes

Marcantes ou para serem esquecidos

Dos lábios às vezes mel ou, às vezes, fel

Dos lábios, vê-se o sorriso

Ouve-se a voz

Sente-se a alma

A calma

A serenidade

A fúria

O início de tudo

O término

O vão, irrefutável

Dos beijos, dos lábios, da fúria, da calmaria e sagacidade

Amargo o mais doce beijo

O doce beijo da saudade

Ou a doce saudade daquele beijo

Que, quiçá, um dia, será repetido

Um velho amigo

Hoje, encontrei um daqueles velhos amigos. Daqueles que me faz sorrir e chorar. Que só ouve o que eu tenho a dizer sem nada a dizer. Um daqueles velhos amigos que ficam guardados por um tempo. E que, em um dado momento, eu lembro de não esquecê-lo. Às vezes, ele faz questão de me mostrar coisas que eu quero esquecer. No meio da noite, faz-me ouvir certas coisas. No meio da noite, mostra-me algumas outras. Algumas vezes, em silêncio. Diz-me: Lembranças guardadas são como pequenos lembretes colados diante dos olhos. São como espinhos pontiagudos prontos a serem lançados em direção ao seu coração. A poeira do tempo não adormece em um único lugar, ela é soprada com o vento na direção em que se move a vida. Fez-me pensar: Como o rio corre para o mar, irei encontrar a resposta. Preciso encontrá-lo mais vezes.